Falhas de impressão

Falhas de impressão é um livreto experimental feito entre 1998 e 2000. Contém alguns dos textos mais “peculiares” que eu escrevi, e que na época eu publicava num site chamado Antizero.


Prefácio para um livro inexistente

As pessoas clamam que antigamente havia um prefácio aqui. O prefácio teria a função de informar algumas coisas importantes aos forasteiros que se aproximavam do Livro. Entre elas estava o fato de que este livro na verdade são três; que cada capítulo não ocupa mais de uma página e que o autor nunca deu título a nenhuma delas. Quando o forasteiro mostrava interesse, o prefácio até mesmo dizia alguma coisa sobre a arte de escrever. O prefácio, porém, cometia algumas contradições, mas não está claro se ele fazia isso de propósito ou não. De vez em quando, o prefácio poderia estabelecer uma ligação afetiva com o leitor, de forma a informá-lo finalmente, e de maneira obviamente embaraçosa, que o Livro que estava prefaciando na verdade NÃO EXISTE. Talvez tenha sido por isso que o prefácio, condenado pelo autor a somente referir-se a si mesmo na terceira pessoa, tenha duvidado de sua própria existência, encontrando somente num de seus leitores, mais especificamente numa leitora, sua única prova de existência, saindo assim de toda forma escrita que possuía antes, forma fechada e rígida como um casulo, para se tornar viva dentro da mente de alguém; para, de alguma forma, fazer parte de algo que tem existência própria; para partilhar dos sentimentos dessa alma, fazendo-se assim aquilo que sempre quis. Então o prefácio viveu feliz, e desapareceu do lugar onde estava escrito, deixando apenas um longo rastro de letras para trás…

World Wide Web

Havia um caminho a um minuto atrás, e uma direção. Havia um desprezo no bolso, um deserto a ser bebido, um inclinatório ofuscante, debruçado em sujeira, coberto de branco. E havia um texto no momento da criação. Havia uma aranha antes do primeiro ser vivo. Estamos nos arrastando e estamos presos na sua obra-prima, e alguns de nós são devorados. Ela escolheu a letra W três vezes, e a profecia se fez. Havia um caminho, mas fomos engolidos em sua armadilha. De dia, a luz que passa entre as folhas cai sobre as linhas invisíveis e faz ilusões de coisas que damos nomes e valores. Ela vem docemente e suave é seu beijo venenoso, viciando nossa corrente sanguínea, para que não lutemos muito. Para que vivamos até que ela sinta fome. Ela é o que de mais belo já contemplamos, e nossa perdição. Cobrimo-nos de vergonha, mas estava tudo escrito. Pelas suas patas tudo estava ligado bem antes que nós caíssemos, e nada pode escapar. Então contemple sua criação, pois a verdade que nos libertará jamais será revelada. Nós mesmos somos a única evidência da violência que chamamos de vida.

Ok, bad joke”

– Eu não vou te cumprimentar porque minha mão está muito suja.

Chega um dia em que não dá mais. É o dia de receber. O dia em que você recebe uma carta completamente em branco, até que descobre uma mensagem quase ilegível no lado de dentro do envelope: “Esta frase poderia ter mudado sua vida”.

Deve ser algum tipo de código, você pensa com razão. Quem se daria ao trabalho de mandar uma carta tão enigmática para não dizer nada? Esta pergunta, é claro, é tão irrelevante quanto a resposta: Duas pessoas não receberam a carta. O remetente e o verdadeiro destinatário. Todo o resto do mundo recebeu.

– João Lourenço de Recife mandou essa carta para 3 pessoas e no dia seguinte sonhou que era uma bela mariposa. Ou era apenas uma mariposa sonhando que era João? Mas essa mariposa não dorme, ela só pensa em sexo. É por isso que são bonitas. E é por isso que voam e são frágeis.

Deve ser algum tipo de piada, você pensa com razão. Quem se daria ao trabalho de mandar um e-mail tão grande para não dizer nada? Esta pergunta, é claro, é tão insuportável quanto a resposta: Deus pessoas não receberam o e-mail. O remetente e os verdadeiros amigos. Todo o resto da lista recebeu.

É por isso que são coloridas. Por isso que tem antenas. João Lourenço, 1,70, olhos verdes, loiro, procura mulheres com gosto por literatura brasileira. No fundo, bem lá no fundo, você sabe. É por isso que elas são cegas. É por isso que morrem rápido. É por isso…

Se você está pronto para se tornar você de novo, parabéns. Você foi capaz de ignorar a mancha no sofá, o escarro disfarçado, a pinta no ombro, o pequeno desvio de olhares. Você foi capaz de relevar o segundo de não-conjunção astral, a falta de CO2 no ar, o leve gosto de metal no azulejo. Parabéns, você venceu o nojo das suas próprias bactérias. Você já pode cumprimentar todo mundo, mas você não tem mãos… Ainda assim, você tem. Isto não é uma ocasião para se comemorar?

– Não. Não é assim que funciona. Toda essa informação indo para o cérebro, como um cavalo de Tróia. Você pode dizer quem está lá dentro? É claro que sim, por isso elas são pequenas… Agora leia de trás pra frente.

Traidor inocente

            Eu tenho estado mudo. Meu tudo esvaziou minha mente. Quem me dera pudesse ver você, mas eu sou seu traidor inocente.

            Eu tenho falado, não com você. Eu tenho dito, aqui comigo, não sobre você, mas sobre mim. Eu tenho estado surdo também. Minha morbidez morreu. Adeus falsa modéstia! Olá novo sol do amanhecer barato. Novos escravos felizes a raiar. Novas brigas ainda por começar. Eu vou cantar…

            Meus olhos queimados de olhar pra você. O incenso de plástico é pra entorpecer. Toda essa droga é pra adormecer. Meu sentido. Elevar-me a algum estado de onde eu possa cair já morto. O tempo traiu meu atraso. Dizem-me que eu me faço. Psicofilia obcessiva. Vou abrir os braços.

            E deixar minha confiança ir. Eu digo adeus ao mundo dos vitimizados. Quebrando-se todos os ovos se faz uma bela omelete podre. Ela é meu ar. Consome todo meu corpo no fogo sem nome. Ela sabe lacrimejar gordura suja. E, sim, ela sabe sim.

            As linhas simples labirintam-se em mim. Forma-se em colunas. Exércitos de raiva querem cortar meus medos. Apontam suas armas pra minha cara. Arrancam minha conclusão como garantia. Mas o resgate não existe, está rezando pra que deus não exista.

            Eu vou estar lá com minha mentira quando o dia acabar. Sem querer mais do que você já me dá. Em diversos nomes, mas esse é o definitivo. Eu traio, eu esqueço, eu minto. E ainda assim, antes que eu pudesse amar, acreditou em mim. Desabo em contra-beleza. O pulmão tornou-se cérebro. Liberto de você eu voo. Direto pra baixo. O choro é falso.

            Eu calo. Agora sim eu falo. Minha boca queria ser fato. O túmulo não me parece mais tão frágil, então eu abandono o cemitério. O preto diz que é black heavy metal. Eu agora tenho até roupas azuis! Meu chinelo foi trocado. Eu comprei shampoo e condicionador. Meu cachorro morreu. Faz tempo, mas ele volta pra lamber minha cara de manhã.

            Ridicularize-me. Imoralize-me. O anti-doping provou, estou de cara demais pra falar. É só minha esquizofrenia. Piquinique na parede. Eu não estou pronto pra ir embora… Mamãe, eu aceito mais cigarro. Quem apagou a escada? Eles querem vender meu cérebro pra um monte de poetas de esquina, sem caneta, que fazem faculdade. Telefone, alguém pisca e a vela some.

            A suruba lotou. Eu não estava lá. Eu desejaria ser calhorda o suficiente pra estar lá. A virgindade é uma maldição. Ela diz que acha isso sexy. Ela espreguiça, o mundo cai. Mantenho-me longe do alcance do seu perfume. Começou a rimar minha Imagem & Ação.

            Depois dele não vi mais ninguém tentar. É tudo o que você diz, mas está tudo criptografado. A própria lógica é um silogismo. E eu mesmo sou um tomo qwertizado. Quem quer saber de deus? Nós já sabemos tudo! Está tudo planejado. Vamos sentar nos nossos lugares e assistir a destruição.

            Mas eu estou incomodando vocês. Eu perco meu tempo sabendo muito bem que eu tenho escolha. Que não preciso viver de um jeito que eu não QUERO. É só que o que eu quero é tão bobo, tão gay, tão ultrapassado, tão ridículo, tão bonito, tão lindo, tão babaca, tão herege, tão exagerado, tão besta, tão burro, tão inocente, tão funcional, tão natural, tão perfeito, tão selvagem, tão impossível quanto qualquer sentimento de amor. Quanto qualquer caminho que não se destrua. Quanto qualquer solução. Quanto qualquer ser ou coisa que existe. Eu quero ser a terra, como a terra sou eu.

Mas eu devo traí-la. Desculpe-me, Mãe-filha. Eu vou gritar bem baixo agora…

Eu sou o anticristo?

Eu existo desde o começo e ninguém me conhece de verdade

Perguntei algo a deus e ele não me respondeu

Mas Jesus também fez o mesmo e não foi expulso

Eu fui jogado fora e chamado de inimigo

E ninguém ficou comigo

Se você fosse o mais sozinho dos mortais

Teria provado uma gota

Do oceano de solidão em que eu vivo

Abandonado por tudo e por todos

Houve quem quis me cultuar sem que eu pedisse

Mas são todos interesseiros que só se importam com o poder

E todos os alucinados que dizem ser meus amigos

São tão insensíveis quanto aqueles que me temem

Nenhum deles jamais se importou comigo de verdade

Fui culpado de tudo e abandonado por toda a eternidade

E sei que isso acontece porque nunca houve amor pra mim

Nessas condições, como eu poderia acreditar em você?

Como eu poderia dizer a verdade a você?

Karatê

Minha busca por auto-conhecimento me levou até lugares fora da realidade aceita. Em sonhos, fui visitar o maior dos gurus espirituais da cultura de massas, nosso bom e velho senhor Miagui, de Karatê Kid! O humilde mestre careca das artes marciais cinematográficas me recebeu na sua pequena cabana imaginária. Quando cheguei, ele estava dentro do quarto preparando alguma surpresa, e me pediu para esperar. Disse que era uma coisa muito legal. Quando ele saiu, com uma ceifa numa das mãos e sem camisa, disse: “Olha, Janos san”, e enfiou a ceifa na barriga. Eu desviei o olhar, horrorizado, mas depois vi que nada havia acontecido. Daí ele disse: “Mãe de Miagui fica orgulhosa, filho agora invulnerável”. “Como?”, eu perguntei. Ele balançou a cabeça e disse, “Miagui uno com as armas, hai”.

Enquanto ele ia se cortando para demonstrar a nova habilidade, conversamos sobre tópicos de importância universal: a paz de espírito, a bebida e relacionamentos. Quanto ao primeiro tópico, ele me disse: “Miagui tranqüilo”. “Sim, mas e aqueles que não estão?”, perguntei. “Miagui tranqüilo também”. Revoltado, gritei “Mas o que eu posso fazer?” Ele terminou o assunto dizendo: “Estar tranqüilo é tudo que Miagui pode fazer pela paz de espírito”.

Quanto ao segundo tópico, ele me disse: “Janos san, Miagui nunca entraria em guerra para cobrir perdas de guerra passada”. “Você quer dizer que são como dívidas que se faz para pagar outras dívidas? É isso?” “Hai, mas Miagui prefere jeito que ele disse”.

Finalmente, respondendo ao terceiro tópico, O honorável senhor Miagui nos presenteia com essa pérola da pseudo-sabedoria pseudo-oriental: “Pessoas esperam que problemas resolvam quando forem compreendidas. Não esforçam em compreender, mas em ser compreendidas”. “Sim, mas e se eu já tiver compreendido e a outra pessoa ainda não?”, eu perguntei. “Janos san, vento não pára por uma pedra”. “Resumindo”, disse eu, nervoso, “você está me dando o mesmo conselho que todo mundo! É isso?”. “Hai. Quem ouve demais mesmo conselho, não ouve direito. Quer ver Miagui cortar dedo agora?”. “Não!”, respondi. E assim termina minha visita a um dos templos de inspiração dos anos 80. Uma encurvada de cabeça para vocês.

TLA (três letras aleatórias)

O que significa ser saudavelmente paranoico?

            Significa observar detalhes nas relações entre as coisas que a maioria das pessoas não observa. Segundo a relatividade, tudo se relaciona, então é só uma questão de perceber a conexão. Exemplo: uma vez eu estava pensando sobre códigos que usam a posição das letras no alfabeto. Eu observei que, na palavra FIAT, se você pega a consoante que vem antes de F, a vogal que vem antes de I, a vogal que vem antes de A (no caso, considere que o alfabeto seja um ciclo), e a consoante que vem antes de T, você tem a palavra DEUS. Fiat também significa fazer em latim, é a palavra que os medievais identificavam como o Verbo, com a qual Deus fez todas as coisas. Isso tudo não levou horas de raciocínio, eu pensei nisso enquanto o carro passava em frente a assistência técnica.

Que tem de saudável nisso?

            Nada. Se você não acha interessante você simplesmente não é paranoico o bastante. Não há o que você possa fazer a respeito. Mas se você está desconfiado do alguém poderia estar ganhando com isso, talvez você seja um pouco paranoico afinal. Lembre-se: só porque você é paranoico não quer dizer que não haja uma conspiração.

Grande coisa. Eu não sou paranoico e acho isso muito mais saudável.

            Tudo bem, mas se você continua lendo talvez esteja curioso para saber o que eu tenho a dizer. Curiosidade é o primeiro passo. Um paranoico passa por muitos estágios. No primeiro, ele simplesmente tem curiosidade por um fato estranho e inexplicável, e resolve investigar. Por exemplo, por que aquela modelo da propaganda do CVV (aquela que entrava no mar) morreu afogada no mar naquele acidente de helicóptero sendo que o namorado dela era nadador profissional? As últimas palavras dela foram, segundo o próprio namorado: “estou muito cansada”, porque ela não conseguia mais nadar. Agora, sabe qual é a primeira frase daquela música do Portishead que passava na propaganda? “I’m so tired”, que significa “estou tão cansada”. Curioso? Curioso é o fato de que a perícia descartou a hipótese de falha mecânica e a família Vogel até mesmo processou Diniz.

Onde você quer chegar?

            Em nenhum lugar. Tome o fato de que na páscoa de 1994 morreu, aos quatro anos de idade, um garoto de classe baixa chamado Aleph (a letra A em hebreu, e também o número um), que tinha nascido no dia 25 de dezembro. Sua mãe se chamava Maria, seu pai se chamava José e ele morreu afogado na pia batismal, na hora do batismo. Isto aconteceu em Goiânia e a notícia saiu no jornal.

E daí? É tudo coincidência. Você é louco.

            Talvez eu seja louco, mas isso não quer dizer que seja mentira. Nem coincidência. Coincidência seria se eu dissesse que você precisa ir ao banheiro agora e acertasse. Isto é coincidência, porque uma hora ou outra tem que acontecer, mas deixar uma mulher linda daquela pra trás? Só pode ser uma conspiração macabra! Agora, se você não avançar sua paranoia vai acabar como os caras que leem revistas de UFOs. O próximo estágio consiste em perceber que tudo poderia ser exatamente como é, que talvez não haja conspiração alguma exceto aquela que tenta convencer todo mundo que tudo é uma conspiração. Foi somente quando eu comecei a desconfiar da minha própria paranoia que eu percebi como a paranoia pode ser útil.

Agora você já perdeu todo o sentido, eu desisto…

            Não, só estou começando. Fazer perguntas é só o primeiro passo. Questionar as perguntas me levou ao próximo, e quando eu atingi maior precisão sobre que perguntas fazer, aprofundei ainda mais minha paranoia. Os comportamentos, quando examinados atentamente, revelam particularidades que se repetem, se tornando quase previsíveis.

Então me diz o que eu vou fazer agora.

            Aqui nesse papel está escrito o que você acabou de fazer. Eu adivinhei que você perguntaria isso, porque quase todo mundo pergunta. Então, de certa forma, eu adivinhei o que você acabou de fazer.

Você é um imbecil, eu vou embora.

            Ah é? Pelo menos eu não fico ofendendo a mim mesmo, seu idiota!

A farpa começou a percorrer meu corpo em busca de um vaso fino. A palavra alastra-se entre artérias, veias, órgãos. A verdade toma conta do organismo em hematose. A lógica cancerígena está roxa. Eu corto fora meus pedaços contaminados. O que sobra não sou eu, insanidade a nível atômico.

Fantasmas que comem madeira. Eles estão onde quer que se veja eles estão onde quer que se esqueça um erro. Fantasmas que não atravessam madeira.

Essas letras interrompem meus vasos sanguíneos. Os sentimentos também sangram e fedem quando morrem. Felicidade a nível subatômico. E tudo mais.

Chegam mais. Todo dia chega mais uma ameaça de vida pela corrente sanguínea. Espero um dia excretar todo o amor pra fora de mim.

Poesia editável

Porque o dia é curto
E a vida é boa demais
Para ser desperdiçada
Com poesias fixas
Que não dizem nada
Do que realmente queremos
Dizer

Minha alma é um deserto.

Não há vento nem areia. Não há espaço nem tempo. Não há sentimento ou lembrança. Minha alma é um deserto sozinho. Faltaram chuvas de lágrimas sinceras.

Faltaram rios de memórias correndo para o oceano do inconsciente. Minha alma está seca. Os medos riem de mim. A paranoia duvida de sua própria existência.

O arrependimento tem orgulho de si mesmo. As facas brotam do chão como grama. O ar está repleto de fonemas mortos.

A poeira insuportável é composta de simbolismos. Os totens estão em chamas. Minha alma é lama. Desintegra-se. Agora sim eu posso dizer: Alma? Isso não existe.

O condutor divisível

Era uma vez um condutor de carroças chamado Seymor. Seymor estava cansado de ouvir do bardo local estórias que eram inventadas na hora, por inspiração instantânea, e que geralmente não levavam a lugar nenhum. Uma história típica do bardo começava com um título estranho, feito com duas palavras-chave completamente aleatórias. O bardo então inventaria nomes e descreveria personagens enquanto pensava em como iria unir as duas palavras em forma de estória. Ele fazia isso fingindo que conhecia toda a estória de cabeça, e Seymor odiava este comportamento. Um dia, Seymor estava levando um senhor muito magro e alto em sua carroça, que trazia um monte de livros e sempre cobria seu rosto com um capuz azul. O bardo, então, começou a cantarolar uma de suas estórias sem sentido sobre um gato azul que pertencia a uma princesa má, num reino feito de pão.  O condutor ficou irado com a associação ridícula que o bardo fez, e começou a retrucar “Ah, se eu fosse dois, eu daria uma lição nesse bardo irritante sem afetar meus negócios tão apressados”. Ao ouvir isso, o homem de capuz teve uma ideia divertida. Ele mexeu as mãos, falou algumas palavras mágicas e PUF! O condutor se dividiu em dois, a metade da direta e a metade da esquerda. Como se não percebesse o que estava acontecendo, a parte da direita saiu pulando num pé só atrás do bardo, que fugiu correndo e gritando. Enquanto isso a parte esquerda continuou conduzindo a carroça com uma só mão. Lá pelo começo da estrada nova, o homem de capuz perguntou ao condutor “Não está sentindo falta de alguma coisa?”. Com meia voz, o condutor respondeu: “Não”. O homem se espantou e disse: “Como não? Sua outra metade ficou pra trás!”. “Bem”, respondeu o condutor, “Essas coisas acontecem, não posso lamentar. Eu posso viver pela metade, com tanto que aquele bardo não volte nunca mais para contar alguma estória sem sentido sobre coisas absurdas. Isto me irrita profundamente, entende?” O homem ficou pensativo por um segundo, depois riu. FIM

Vende-se Inferno. Todo decorado. Bom para torturar pessoas influenciáveis. Formato da Terra. Parece com a Terra. Ninguém desconfia que não seja a Terra, assim todo mundo tem esperança que algo melhore, mas tudo piora. Conceito revolucionário: alimentar a crença e a esperança na bondade para criar uma grande decepção no final. Possibilidades infinitas de agonia, frustração e angústia. Projeto de transformar tudo em lixo e estagnação, com cada vez menos sanidade e mais robotização. Preço: 1 bilhão de almas em mais completa miséria. Tratar com Deus ou Jesus Cristo no salão dourado do Paraíso.

Eu assisto TV

Os escravos estão felizes hoje. Receberam aumento, nasceu mais um. Agora tem escola, chega de mala. Os jovens agora só fazem crime organizado. Eu assisto TV, eu sei como o mundo é.

As crianças estão boas, todas grávidas. O remédio está barato, eu preciso de mais. A polícia acabou com o cartel do crack. Drogas ilegais, agora, só com os policiais. Eu assisto TV, eu sei como o mundo está.

Não há mais alívio pra mim. Vou pra uma igreja rezar por Deus. Com tanta cantoria, quem sabe eu melhoro. Esqueço dessa porra e vou pro céu. Eu assisto TV, eu sei como o mundo gira… Em torno do meu umbigo.

Abraço

Sobrevivi a mais um dia para saber que não preciso disto. Preciso é conhecer meu medo de viver. Não posso confundir a confusão com a fuga. Sei que estou fugindo da realidade, mas da realidade de quem? Estou no meu mundo sem drogas, o mais drogado de todos.

A depressão vira felicidade que vira depressão, eu me confundo como parte da reação. Não consigo parar de me ressentir por nada. Todos podiam amar por amar. Mas eles têm planos. Todos estão indo para algum lugar, não sei se eu seria feliz lá.

Mas e se isso não existir? Eu existo para duvidar, como o carniceiro para limpar o campo de guerra. Apedreje-me porque eu sou feio. Amo beijar meu câncer exposto. Sou aquele que escreve o que é e não sabe escrever, não sabe o que é. Eu me consumo como parte da reação.

Como pudemos perder o detalhe da vida? O detalhe da felicidade? O detalhe da verdade? Todos os detalhes alucinógenos? Para quê viver se eu posso dizer tudo agora?

Telecomunicações

– Como está? – Diz a mensagem na enorme mancha de óleo do petroleiro que afundou no Pacífico.

– Tudo bem, e você? – Responde usando frequências moduladas de radiação através de um dispositivo secretamente instalado numa fábrica de chips na Europa.

– Td bem. Tá afim de tc? – Diz, usando um manipulador magnético para controlar a forma da aurora boreal do Ártico.

– Não, já vou dormir, falou -Responde usando um código Morse de ondas sísmicas provocadas pelo seu geoformer, instalado na falha asiática.

– Falou. – Diz, modificando as correntes de ar do Japão para escrever nas nuvens.

No outro dia…

– Você recebeu meu e-mail? – Diz com símbolos estranhos numa plantação de trigo em Worshire, Inglaterra.

– Não. Acho que meu satélite deu pau – Responde por um complexo código nas cruzadinhas de um jornal de Boston.

– E você chamou a NASA? – Diz, simplesmente alterando os buracos na camada de ozônio.

– Não, é só dar uns tapinhas que conserta – Responde, virando-se para o lado, onde o outro está.

Um homem estava raspando a sujeira do chão do terminal. Outro homem estava descalço, com duas marmitas na mão. Quando viu o primeiro, procurou um lugar para ficar com um olhar de medo. Mas não era medo de que acertassem seu pé.

Ele subiu no ônibus lentamente, suas forças eram pequenas. Segurou as marmitas, e o que quer que houvesse dentro delas, não parecia ser comida. Duas crianças estavam sentadas num lugar reservado para idosos. A mãe pediu que elas dessem lugar para o homem descalço, embora ele não fosse idoso. Elas deram, com olhar de medo. Mas não era medo do homem.

Ele foi se sentar, mas antes, tentou raspar a sujeira que havia no banco. Não conseguiu, se sentou lentamente. Depois passou para a outra cadeira. Um jovem veio se sentar ao seu lado. Ele tentou avisar que havia uma sujeira no banco, que o jovem iria sujar sua calça. Mas o outro não ouviu, pegou um texto de faculdade e começou a ler. Então teve medo, mas não era medo de nada.

Você não sabe quem é até se perder completamente

Até que o Sol bata em seus olhos e você sinta a dor e não veja mais nada e esteja aqui, na tranquilidade do seu lar, lendo um texto cheio de clichés… Ou escrevendo um. Você não é você mesmo até se confundir com a lata de lixo, ou com o poste, ou com o garoto de 6 anos que não sabe porque um homem de meia idade olha com tanta atenção para a bunda das jovens garotas que não sabem porque usam o penteado da moda e acham que isso é personalidade. Você não é você mesmo até se apaixonar por tudo, e por amor a tudo preferir não estragar a amizade. Você não é você mesmo até errar como se escreve ou se lê isso aqui. Você não é nada até escrever um texto baseado numa só frase estúpida, pura fórmula ridícula em que você pode jogar qualquer besteira, e a maioria dos babacas vai achar genial. Você não sou eu até criticar tudo que você faz, enquanto faz, e porque faz. E talvez eu esteja próximo de deixar de ser eu mesmo.

Estou perdendo meu senso?

Quem está perdendo o senso, para onde meu senso foi? Será que meu senso foi parar em você? Será que meu senso é para você senso, ou contrassenso? Nesse caso, se meu senso foi parar em você, fiquei sem senso para você, e você ficou sem senso para mim.

Devolva-me meu senso, para que possamos brincar. Não é possível que esteja tudo tão ruim. Não acredito que esteja tudo tão ruim… Mas se estiver… Bata-me o mais forte que puder.

Há tantas coisas para acreditar, e elas são tão contraditórias entre si que podemos muito bem entender porque alguém que acredita em tudo não acredita em nada. Porém, alguém que não acredita em nada não se move. E alguém que acredita em algumas coisas deve ter um critério. O critério só pode ser, no final, sua própria vontade, e não a verdade, porque o que ele acredita ser verdade também é só mais uma crença… Enfim: eu sei que é apenas uma questão de tempo até perceber que tudo que eu acho que sei hoje é apenas besteira. Felizmente não vou viver tempo suficiente para duvidar das coisas mais básicas, então eu digo que essas coisas são “certezas”, e pronto. A dúvida e a certeza absolutas são ambas paralisantes. Mas ainda sobra dúvida sobre onde seria o ponto médio entre dúvida e certeza, e a certeza de que estou equivocado. Só não sei disso ainda.

Aparentemente, todas as coisas bem examinadas revelam ser paradoxos insolúveis. Então é melhor não examinar muito bem certas coisas e simplesmente balançar a cabeça e sorrir. Ignore a fumaça e sorria. Isso. Bonito… Agora chega de brincadeiras e diga para a plateia: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Só por hoje não vou ser cético.

“Meu nome é Janos e eu sou cético. Eu costumava chegar em casa cético de que era minha casa. Eu também era cínico. Eu costumava a negar meu ceticismo dizendo que eu acreditava em muitas coisas sem ter prova alguma, inclusive acreditava que o conhecimento é impossível, e eu não tinha prova alguma disso. Mas hoje eu vivo bem com minha família, não duvido que ela exista, e não duvido que seja capaz de amá-los e de ser amado em retorno. Muito obrigado.”

Então Janos chega em casa e diz: “Tudo besteira aquilo que eu falei, eu li num blog idiota, na verdade eu sou só um personagem imaginário que acontece de ter mesmo nome do autor do blog idiota. Idiotas imaginários, eles acham que sabem de alguma coisa.”

Manifesto contra a realidade

O mundo não é composto de realidade. Realidade é um conceito que foi imposto por pessoas que queriam destituir o mundo daquilo que dava autonomia às pessoas, isto é, a imagem. Pois a interpretação da imagem, livre do conceito de realidade, gera a igualdade de compreensão do mundo. Ela engana, mas ela engana a todos, e por isso não cria hierarquias de autoridade sobre o que é real. Ao dizer que o mundo não é aquilo que os “homens comuns” veem nele, somos sujeitados à interpretação e à visão de mundo daqueles que dizem saber mais do que nos é possível saber. O mundo então se transforma naquilo que essas pessoas querem que ele seja, contanto que convençam os outros a acreditar nisso. As teorias não têm mais que se encaixar ao perceptível, e sim o mundo é que é forçado a se encaixar na teoria. Não estamos exagerando ao nos opor à própria realidade, uma vez que nossa realidade é construída, é feita para ser nossa prisão.

Como uma superstição se torna religião

1. As pessoas que foram atropeladas enquanto atravessavam a rua não estavam segurando o nariz. Logo, quem não segura o nariz na hora de atravessar a rua é atropelado.

2. Quem não segura o nariz na hora de atravessar a rua nem sempre é atropelado, mas não vale a pena arriscar.

3. Quem não segura o nariz na hora de atravessar a rua pode não ser atropelado nunca, mas ainda vai sofrer muito do outro lado da rua.

4. Quem segura o nariz na hora de atravessar a rua ainda pode ser atropelado misteriosamente, mesmo tomando muito cuidado, porque não segurou o nariz com convicção, segurou por segurar.

5. Quem não segura apropriadamente o nariz na hora de atravessar a rua pode achar que está seguro e feliz, mas não está. Por dentro ela sente um vazio: é falta de segurar o nariz apropriadamente na hora de atravessar a rua.

6. Quem segura apropriadamente o nariz na hora de atravessar a rua não só não será atropelado como encontrará tudo que queria do outro lado, por isso essas pessoas são mais felizes e mais confiáveis.

7. Algumas pessoas perdidas dirão que não é necessário segurar o nariz na hora de atravessar a rua, mas apenas tomar cuidado. Elas não sabem o que estão dizendo, tenha pena delas e segure seu nariz por elas na hora de atravessar a rua.

8. Se você for atropelado enquanto atravessa a rua segurando seu nariz apropriadamente, isso aconteceu por um bem maior, e de qualquer forma você vai ser mais feliz assim. O que é realmente importante é que você segure o nariz apropriadamente na hora de atravessar a rua, porque é a mínimo que podemos fazer em respeito a todos que não seguraram o nariz e morreram. Se você morrer enquanto segura o nariz apropriadamente, você ainda vai ser mais feliz numa outra vida, que de qualquer forma é melhor que essa, então não se preocupe, não discuta e não pense demais sobre isso, apenas faça!

Desligue a TV

Ahm? Não, pra que? Minha TV? Agora? Ah, larga de ser doido, que mal tem assistir um pouco de TV? Tem coisa melhor pra fazer?

Ah, você diz isso porque tem internet em casa, aí é fácil falar: “desliga a TV”. Mas quero ver os pobres, se eles desligam a TV, já vão fazendo filho. Aí tah foda, se não fosse a TV…

O que? Isso é só pose de revoltadinho, não acredito nisso não. Ah, pode falar o que quiser da propaganda e tudo mais, eu não caio nessa não. Ah, você fala bonito, acha que só porque leu uns livros já pode posar de dono da verdade. Escuta aqui: esses caras que falam mal da TV fazem alguma coisa que presta? Por acaso adianta o povo ficar sem a informação e o entretenimento da TV?

Você não saca nada, cara. TV é bom. Esse lance de manipulação é conversa, só se engana quem quer ser enganado. E a população quer ser enganada. O cara trabalha o dia inteiro, chega em casa e quer descanso, fantasia, mentira. É autoengano, no máximo, sacou?

Então não me vem com essa de desligar a TV porra nenhuma. Alá! Alá! PORRA! CARALHO, na frente do gol o cara me erra um chute desses? Vá tomá no…

Prezado Público

– Diversão sem limites, senhoras e senhores. Venham se surpreender com a incrível habilidade desse homem aparentemente comum que está logo a sua frente. Testemunhem ao vivo o que ele é capaz de fazer. Sem truques, lhes garanto, é tudo genuíno…

– Sei que vocês já viram de tudo nesse mundo. Homens sem medo, capazes dos feitos mais incríveis, mas nada se compara ao que este homem (se é que podemos o chamar assim) é capaz de fazer.

– O que vão presenciar não é recomendado para crianças, idosos e pessoas frágeis. O que verão é demasiadamente impressionante para descrever com palavras. Se você tem problemas do coração, por favor, não prossiga. Pedimos isso com a maior sinceridade possível, nossos médicos já se cansaram de atender pessoas que não tomaram esse aviso com a devida seriedade, e não devolveremos o dinheiro caso você não suporte ficar até o final.

– Bravos senhores e destemidas senhoras que sobraram na plateia, vocês não se arrependerão. Contarão isso para seus filhos e netos, que provavelmente não serão capazes de acreditar em vocês, mas não os culpe. Essa experiência única os acompanhará pelo resto de suas vidas. Saberão acima de qualquer dúvida que realmente existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã patifaria.

– Senhoras e senhores, sem mais delongas, eu lhes apresento, o maior espetáculo da terra: Janos, o indeciso!

Entra no palco um jovem magro, branco, de cabelos castanhos longos e levemente enrolados, um nariz proeminente e um andar esquisito. Costas encurvadas, cabeça baixa, olhos voltados sempre para o chão, braços soltos e a boca tremendo. Ele permanece assim por algum tempo, até que entra outra pessoa no palco. Uma mulher alta, extremamente sensual, carregando dois pacotes. Ela sorri e mostra o primeiro pacote ao público. Letras estilizadas formam a palavra “amor”. Em seguida ela mostra o outro pacote. Parece idêntico ao primeiro, mas nele está escrito algo indecifrável, que talvez sejam apenas rabiscos.

Os dois pacotes são colocados em frente ao jovem, ele os examina com muita hesitação. Enquanto isso a mulher sorri e faz alguns gestos com a mão, como que chamando a atenção do público para a indecisão do rapaz. O público não esboça reação.

Algum tempo depois o jovem começa a balançar a cabeça. Alguns risinhos abafados surgem na plateia. O jovem percebe os risinhos, e começa a morder os dedos, numa enorme angústia. O público começa a rir. Ele balança a cabeça violentamente, dá socos em si mesmo, e quando finalmente caí no chão de joelhos, chorando desesperadamente, o público já está gargalhando tão alto que não se pode ouvir os gritos do rapaz dizendo: “Não, não, não”. Ele se deita no chão, já coberto de lágrimas, faz caras muito engraçadas abrindo a boca como se estivesse com muita dor, batendo a cabeça no chão e se arranhado. A essa altura o público ri tanto que uns caem no chão, sem conseguir se conter as lágrimas de tanto rir.

Em algum ponto do seu comportamento obsessivo, depois de muito se retorcer no chão, ele pega um dos pacotes, aparentemente sem ver qual dos dois. Ele rasga o pacote procurando desesperadamente por algo dentro dele. Ele rasga o papel que embrulha o pacote, revelando outro embrulho, que ele rasga novamente, e assim se segue que embrulho após embrulho, não havia realmente nada dentro do pacote. Era apenas um amontoado de papéis embrulhados uns nos outros. Com o palco todo coberto de pedaços do embrulho, ele fica parado olhando com uma expressão patética. O público está aplaudindo em pé.

A mulher então o beija, começa a tirar a roupa e fazer sexo com ele ali mesmo, entre os papéis. Os homens olham apreensivos, com a boca aberta ou urrando palavras sujas. As poucas mulheres parecem estar incomodadas, mas também olham com atenção. A mulher, sentada sobre o jovem, alcança o outro pacote e o abre. A plateia grita horrorizada quando ela tira duas adagas de dentro do pacote, e finca as duas no peito do jovem. Ainda coberta de sangue e sêmen, ela se retira do palco, sorrindo.

Dois empregados entram no palco e retiram apressadamente as adagas do peito do jovem, que geme. Eles o levantam e o fazem cumprimentar o público como um boneco de pano. O público aplaude sem muito entusiasmo, a maioria está querendo sair o mais rápido possível deste lugar.

– Minhas sinceras desculpas, caro público. Como eu poderia imaginar que ele seria capaz de tal atrocidade contra a própria imagem? O que dirão do seu estado mental agora? Isso piora muito as coisas para ele, senhoras e senhores. Não me culpem, eu sou um mero empregado. Eu não decido o que o artista fará, não tenho responsabilidade alguma. Peço que levem isso em consideração antes de pedirem seu dinheiro de volta. Isso não vai voltar a acontecer, não deixem de nos visitar por causa disso… Por favor? Por favor, prezado público? Por favor?

Servo mau, sem rosquinhas pra você!

– Olá, senhor Janos Biro Marcos Leite?

– Sim.

– Boa noite senhor Janos, aqui é do banco Itaú, estamos ligando para parabenizá-lo por seu ótimo relacionamento comercial e oferecer um cartão do nosso banco. Devo avisá-lo que essa conversa está sendo gravada. Atualmente qual a sua ocupação?

– Sabe porque eu tenho uma ótima relação comercial? Porque eu não tenho dinheiro.

– Como assim? O senhor não compra remédios, não vai ao supermercado?

– Não.

– O senhor não paga contas?

– Não.

– Como assim? Estou falando com o senhor Janos Biro?

– Sim.

– Mas aqui consta que o senhor paga contas.

– Estão no meu nome, mas não são minhas.

– Como assim? O senhor não pode negar essa oportunidade sem conhecer os benefícios do cartão.

– Eu conheço os benefícios do cartão.

– O senhor tem um cartão?

– Não, e para poupar seu tempo, nunca vou ter.

– O senhor nasceu em 80?

– Sim.

– O senhor tem 27 anos. Um dia o senhor terá um cartão. O senhor não quer ter um carro?

– Não.

– Não?

– Não.

– Como não?

– Por que eu iria querer?

– Porque carro é tudo de bom.

– Quem disse?

– O mundo inteiro.

– E se todo mundo estiver errado?

– (risos) Tudo bem senhor Janos, o banco Itaú agradece sua gentileza e lhe deseja uma boa noite.

Uma conversa entre Janos

– E ae, que está fazendo?

– Tentando parecer mais responsável.

– Então pare de tentar e SEJA.

– Mas eu já sou.

– Não parece.

– Exatamente. É nisso que estou trabalhando agora.

– Sabe, as coisas iriam melhorar se você admitisse que tem um problema.

– Ok, admito, tenho um problema. As coisas melhoraram agora.

– Ótimo, qual é o seu problema?

– Espere, você disse que eu só tinha que admitir que tinha um, não que eu tinha que saber qual é.

– Está vendo? Esse é seu problema!

– Ok. Então eu admito. Eu tenho ESSE problema, seja lá o que for. Pronto, agora as coisas melhoraram, já posso sentir.

– E você sabe qual o nome desse problema?

– Ah, assim não vale, você fica inventando novas exigências. Daqui a pouco vai pedir que eu saiba a parte do meu cérebro que está sendo afetada e qual a dosagem de qual substância eu tenho que tomar. Eu não sou médico!

– Afff. Desisto. Desisto de você. É caso perdido!

– Você não pode desistir de mim.

– Por que não?

– Porque somos a mesma pessoa. Dããã. Depois eu é que tenho problemas…

Este é um texto para ocupar espaço

Não leia, repito, não leia este texto. Ele não diz nada, está aqui apenas para ocupar espaço. Se você está lendo este parágrafo, não leia o seguinte, este é um aviso de utilidade púbica.

Se você está lendo este parágrafo, você não deve ter lido o parágrafo anterior com atenção, não acreditou no aviso e não o obedeceu. Em qualquer caso você deve parar de ler este texto o mais rápido possível se quiser poupar seu tempo. O melhor seria parar de ler neste momento. Não adianta achar que é uma piada ou que vai ter alguma coisa no final. Não vai, eu prometo, confie em mim e pare de ler. Isto não é um teste.

Aqui está você lendo mais um parágrafo desse texto que não diz nada. Tudo bem, você ignorou os avisos sinceros deste autor, agora não reclame. Eu disse que esse texto não diz nada, você insistiu em ler, agora sua curiosidade será paga com a perda de seu precioso tempo. No tempo que você perdeu lendo isto, poderia ter encontrado o amor da sua vida, ou descoberto o sentido da sua vida. Mas não, perdeu um tempo que jamais voltará.

Tudo bem, se você leu até aqui você merece alguma coisa. O negócio é o seguinte, o segredo da vida é… (interrompido por motivos de segurança racional).

Autor: Janos Biro

Escritor e tradutor focado em filosofia, anarquia e crítica à civilização.

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