
Este pequeno zine hackeado pela Monstro dos Mares tem um formato diferente, pois foi feito com papel reaproveitado de impressões que deram errado. O texto foi traduzido por Loreley Garcia, e fala sobre como a filosofia política pode contribuir com o movimento anarquista.
O ponto central de Butler é sobre a violência da legalidade e o papel do anarquismo na contestação dos “devidos processos legais” que no fundo operam a favor da violência normalizada pelo estado. Ela cita como exemplo o caso de governos que recrutam pessoas de algumas minorias como porta-vozes da liberdade individual e da liberdade de mercado, ajudando a manter a violência estatal contra outras minorias. O anarquismo queer seria um contraponto ao que ela chama de “libertarianismo gay”.
“O libertarianismo gay imagina-se defendendo os direitos individuais, mas falha ao perceber que o individualismo é uma forma social que, sob as condições do capitalismo, depende de desigualdade social e do poder violento do Estado” (p. 9).
O anarquismo também serve crítica a perspectivas reformistas, que não tem como horizonte político a dissolução do estado e retorno do poder popular efetivo. O anarquismo nos relembra que nada que o estado provém é garantido. O estado, na verdade, não nos protege contra a violência, pois depende dela para ser mantido. Mesmo quando institucionaliza conquistas populares, ele precisa ser mantido em xeque.
“De fato, se a ação política é permanecer crítico, ela deve pesar os custos da institucionalização e resistir a qualquer institucionalização integral. Isso não significa que devemos evitar todas as práticas institucionais, mas que elas não devem tornar-se normas restritivas para uma mudança política radical” (p. 14).
Exemplos dessas posturas críticas no anarquismo são as formas de enfrentamento e resistência à violência policial e as ocupações habitacionais. Mas como fazê-lo, diante do poder de constranger e reprimir pelo medo da lei e a ameaça de violência? A resposta de Butler é que “Se os corpos temem, é através do temor, por assim dizer, que agimos” (pág. 19). Ela parece estar se referindo à ideia de que a ameaça pode desencadear uma resposta do tipo “lutar ou correr”. Correr, porém, tem um limite. É impossível se submeter indefinidamente à opressão. A luta é inevitável, e ela não se limita termos leis melhores.
“Nós temos que fazer parte da luta para fazer com que a lei seja justa, mas nenhuma lei existente será capaz de nos dizer o que é a justiça. Nesse sentido, temos que buscar recursos para normas extralegais e valores para decidir estratégias em relação à lei” (p. 21).
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