L.A. Noire: uma crítica ao império

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Pequena resenha do jogo L.A. Noire (2011), da Rockstar Games.

L.A. Noire também é um jogo que se desfaz do mito do herói (veja mais sobre isso na minha análise de Far Cry 3), porém não completamente. Ele faz o que os estadunidenses fazem de melhor: falar mal de si mesmos. Logo na sequência inicial, o jogo apresenta a cidade de Los Angeles dos anos 40 como protótipo das cidades do futuro: uma cidade feita para os carros, não para as pessoas. A cidade das “oportunidades” (dos oportunistas), da indústria do cinema e dos políticos corruptos. Tudo isso em meio ao florescer da psiquiatria, do tráfico de drogas, da especulação imobiliária e do sonho americano.

O protagonista é um herói de guerra condecorado que agora trabalha como policial. Durante o jogo, o protagonista é promovido a detetive em diversos setores, chegando a ser tratado como celebridade, para por fim ser rebaixado e tratado como escória pelo fato de ter tido um caso extraconjugal com uma cantora alemã.

Com o fim da guerra, veteranos retornaram para casa sem o devido apoio psicológico e financeiro. Alguns deles decidiram roubar o carregamento de morfina que estava no navio em que vieram e vender no mercado negro. Mas os traficantes já estabelecidos não gostam disso e resolvem eliminar a concorrência. A morfina acaba parando nas mãos de um psiquiatra que tratava veteranos com traumas de guerra. Ele começa a usar a morfina em seus pacientes, e acaba vendo o potencial lucrativo desse novo tipo de negócio, transformando o tráfico de drogas num crime muito mais organizado.

Ao mesmo tempo, o prefeito da cidade em conluio com cidadãos influentes, como o dono de um grande estúdio de cinema e o psiquiatra citado anteriormente, resolvem criar uma associação chamada Fundo de Redesenvolvimento Suburbano, que supostamente se dedicaria à construção de casas populares para prover moradia aos veteranos de guerra. Para comprar os terrenos pelo menor preço, eles fizeram um sorteio falso, em que premiavam as famílias com uma viagem, e queimavam suas casas enquanto elas estavam fora. Para queimar as casas, eles usaram um veterano especialista em explosivos e lança-chamas, que serviu na mesma unidade do protagonista. Este veterano estava em tratamento com o psiquiatra envolvido no esquema depois de um trauma de guerra: ele acidentalmente incinerou pessoas inocentes, mulheres e crianças, por causa de um erro do protagonista.

Após queimar acidentalmente uma família que não tinha viajado, o veterano fica completamente louco e decide explodir coisas e cometer suicídio. O protagonista acaba morrendo, como símbolo de uma culpa irredimível. No seu funeral, um policial corrupto diz que ele foi um herói. Claramente, ele não foi. Mas outro personagem aparece como herói. O rival do protagonista, que a princípio parece ser um mau caráter, acaba se mostrando íntegro. Assim, a narrativa ainda é a da construção de um herói, apesar de não partir do ponto de vista do herói. A história é contada do ponto de vista do falso herói, cujos erros são grandes demais para serem redimidos.

Autor: Janos Biro

Filosofista, anarquista, bicicleteiro, tradutor, zineiro e joguista.

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