Um resumo do texto Caminhos de construção da pesquisa em Ciências Humanas, de Paulo de Salles Oliveira.
O método é definido por Lalande como “esforço para atingir um fim” ou “caminho pelo qual se chega a um determinado resultado”. O método indica discernimento de direção. Segundo Marilena Chauí, se trata de um “procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado”. Seria um percurso escolhido entre outros possíveis, ainda que de modo inconsciente. Mas não seria um caminho qualquer, e sim um caminho seguro, que garante coerência e correção. “O objeto da metodologia é, então, o de estudar as possibilidades explicativas dos diferentes métodos”.
Segundo Wright Mills, o ideal seria que cada autor fosse também seu “próprio teórico e seu próprio metodólogo”, sem se esquecer que as ciências humanas funcionam melhor com um diálogo interdisciplinar, observando diversos aspectos dos fenômenos estudados.
Paulo de Salles Oliveira enfatiza alguns pontos de importância crucial na prática da pesquisa, valorizando-a como uma prática artesanalmente construída: 1. A relação entre o tema de pesquisa e a biografia do pesquisador. 2. A importância de coligir anotações em arquivos. 3. Os cuidados com o levantamento de dados e a produção de novas fontes. 4. A importância de exercitar a imaginação criadora. 5. A atenção com a linguagem, recusando a afetação e o hermetismo.
O trabalho do produtor de conhecimento não pode estar separado de sua vida. Isso atribui vida ao estudo. Por outro lado é preciso evitar ceder às verdades cristalizadas, fórmulas vulgares e esquemas reducionistas. Os arquivos devem ser detalhadamente elaborados, e os dados produzidos de modo honesto e ético. Além disso, pesquisar não é somente aplicar técnicas, mas exige o cultivo da capacidade imaginadora. Sobre a linguagem, deve-se evitar recorrer a jargões, estrangeirismos e novas semânticas quando o uso criativo da língua comum for suficiente. E principalmente se isso for feito somente pela rigorosidade técnica da pesquisa, e não pela necessidade de ser bem compreendido.
O pesquisador é um “zelador do consórcio entre teoria e prática, reservando exemplos probantes a cada movimento importante de sua reflexão”.
O método envolve técnicas, mas também “diz respeito a fundamentos e processos, nos quais se apóia a reflexão”. A técnica não pode ser disposta independentemente das concepções de mundo e das relações entre sujeito e objeto de pesquisa.
Segundo Oliveira, “o método existe para ajudar a construir uma representação adequada das questões a serem estudadas”. A sua origem está na modernidade, com a valorização da razão e a busca de outras possibilidades interpretativas, diferentes das religiosas, para os dramas sociais humanos. Almejava-se uma ciência capaz de interferir na realidade, de ser atuante na prática e situada com as mudanças do seu tempo.
Segundo Maria Sylvia de Carvalho Franco, o movimento de dessacralização do conhecimento correspondeu à sacralização do trabalho. O exercício contemplativo e as ocupações economicamente improdutivas perderam valor no contexto da ascensão burguesa, que cultuava o adestramento da mente pelo método. Política e ciência se tornam instrumentos para dominação da natureza e da educação dos homens em relação à lógica da produtividade e da acumulação.
Mas nas ciências humanas o homem se percebe ao mesmo tempo como sujeito e objeto da investigação científica. O pesquisador que estuda o mundo social não pode se colocar fora dele, sob o risco de mortificar seu objeto. Há uma ilusão de que os fatos se separam da teoria. É preciso, portanto, reavaliar criticamente as relações entre sujeito e objeto do conhecimento, relativizando a figura soberana do sujeito do conhecimento.
Em primeiro lugar, é preciso aprender a ler corretamente. Isso significa não ler de modo exterior, sem distinguir as peculiaridades do texto, apenas pinçando o que interessa segundo a conveniência. Não ler de modo fragmentário, sem recompor o encadeamento de ideias com as quais o autor construiu o pensamento. Não ler usando referenciais estranhos ao autor.
É preciso “identificar os significados que o autor confere às questões estudadas”. Ler é colher, mas interpretar é eleger, decifrar o enigma do texto e selecionar aquilo que o autor quis dizer, compreendendo seu método para dizê-lo. Não se deve “fazer colagens de citações sem respeitar as especificidades do movimento de pensar dos autores”. Para evitar ler um autor em acepções que nunca foram originalmente suas, é preciso “acompanhar atentamente as construções teórico-metodológicas dos textos, mergulhando em sua dinâmica interior”.
Referência:
OLIVEIRA, Paulo de Salles. Caminhos de construção da pesquisa em Ciências Humanas. In: Metodologia das Ciências Humanas. São Paulo: Hucitec, Unesp, 1998, p. 17-26.