Um ensaio de filosofia da biologia sobre o conceito de evolução.
A evolução integral é a evolução da vida como um todo. O desenvolvimento de uma espécie é parte de uma mudança que ocorre não só num objeto isolado, mas em todo um sistema.
Não podemos dizer com certeza onde estão realmente os limites entre um ser e outro ser. Geralmente nos enganamos em relação a muitas espécies que considerávamos separadas, mas que estavam mais ligadas do que imaginávamos. Às vezes também nos enganamos a respeito da escala de complexidade em que acomodamos os seres. Nas várias vezes que introduzimos novas espécies num certo meio, não fomos capazes de prever corretamente as consequências, que muitas vezes foram prejudiciais. Como no caso dos espécimes que foram introduzidos para eliminar pestes e acabaram gerando um problema ainda pior.
Isto acontece porque a natureza trabalha com feedback negativo. Feedback negativo é mais ou menos o que um termostato faz: diminui a temperatura quando está calor e aumenta quando está frio. O feedback negativo é sempre uma resposta a algo que está passando dos limites. Nosso corpo funciona assim. Se uma glândula resolvesse produzir sempre mais hormônios em resposta a um excesso de hormônios, nós ficaríamos doentes. O ecossistema age de maneira não muito diferente. Ele mantém populações dentro de seus limites. Quando surge uma nova espécie, ela ocupa o espaço deixando por outras espécies. A extinção natural e a origem das espécies fazem parte do mesmo processo. É por isso que a natureza precisa se renovar no seu ritmo próprio. Se nós interferirmos demais na sua diversidade podemos causar efeitos inesperados e catastróficos.
Embora apliquemos o conceito do feedback negativo a alguns aspectos de nossa vida, a outros aplicamos o conceito contrário: o feedback positivo. Feedback positivo consiste em aumentar a produção em resposta a algo que já está passando dos limites. Num tipo de situação onde atingir um limite normalmente significa diminuir o evento causador, para nós significa aumentá-lo. É como um termostato que aumenta a temperatura quando ela já está alta, e abaixa quando está baixa. O resultado disso é necessariamente insustentável.
Exemplos de feedback positivo em nossa sociedade podem ser encontrados na maneira com que lidamos com problemas sociais e econômicos. O mais importante feedback positivo que criamos é o da provisão de comida, que achamos que deve sempre crescer porque nossa população sempre cresce. Estabelecemos parâmetros estáticos para solucionar problemas dinâmicos, e geralmente restringimos um ou dois efeitos autodestrutivos enquanto aumentamos a carga dos eventos causadores originais.
Quando o assunto é sociedade, invertemos um velho ditado sobre prevenir e remediar. Para nós parece ser bem mais vantajoso remediar que prevenir, pois é nisso que realmente investimos. Para resolver um desequilíbrio muito grande, criamos pressão sobre o lado logicamente oposto, e obtemos em resposta um stress ainda maior. Nossa incapacidade de resolver problemas socioeconômicos é a mesma incapacidade de resolver problemas numa lavoura usando pesticidas: nossas intervenções são demasiadamente abruptas para a pouca informação que realmente temos dos fatores relacionados ao problema. Em outras palavras, criamos concepções erradas sobre o que seja “a raiz do problema”. Por exemplo, achamos que o problema gerado pelo desenvolvimento será resolvido com ainda mais desenvolvimento.
A “solução” seria reduzir o impacto das intervenções para evitar o colapso, aumentar a flexibilidade para responder aos efeitos inesperados e não estabelecer modelos de ação demasiadamente estáticos. Para fazer isso seria preciso um sistema de elementos autônomos, descentralizados, que formassem uma rede de interdependência. A natureza tem uma história de milhões de anos de sucesso no ramo de mudar as coisas sem tornar o sistema instável ou fragmentado.