O endeusamento do humano

brown and black painted concrete highrise building
Foto por Pixabay em Pexels.com

Um pequeno ensaio sobre a Essência do Cristianismo, de Feuerbach.

“Os deuses são a personificação do que os seres humanos anseiam, em última instância, ser. Deus é o ideal do homem criado pelo próprio homem para o homem. Quando um ideal morre, um deus morre também.”

Essa é a tese de Feuerbach em Essência do Cristianismo. Feuerbach foi um teólogo humanista, crítico de Hegel, que influenciou e foi criticado por Marx. Trata-se de uma resposta materialista e antropocentrada ao idealismo alemão. Em resumo, o que Feuerbach diz é que a verdadeira essência da religião provém do ser humano. Deus seria o ego idealizado do homem.

O teólogo Karl Barth, leitor de Marx, aceitou essas palavras, mas afirmou que o homem que define seu deus a partir de si mesmo está mentindo, pois não fala de um ser criador e sim de um ser criado. Fala de um conceito baseado na observação humana. Portanto, ao perder a esperança nesse deus antropomórfico por sua inconsistência com o ideal de bondade, amor ou qualquer outra qualidade por nós apreciada, e pela decepção com uma realidade que não parece ser regida por uma força que se encaixe nesses ideais, o homem não está negando senão um ídolo, portanto está negando um pseudo-deus, uma criação humana.

Quando a morte do ideal determina a morte de deus, como em Nietzsche, significa que esse deus era dependente do homem, era somente um dispositivo psicológico. Significa a morte de um ídolo, de uma ficção. Porém, quando essa morte tem a intenção de atribuir ao homem ou ao mundo tudo que estava atribuído a deus, se trata de uma substituição ou transferência, que tem a intenção de afirmar uma doutrina do homem ou da natureza enquanto deus. É a criação de uma nova ficção.

Se deus permanece, no entanto, totalmente incomparável a tudo que pode ser observado, todas as qualidades a ele atribuídas são analogias incompletas. A pessoa de fé não busca deuses: ela se esvazia de si mesma para ser alcançada por algo misterioso e incomparável. Se a religião não esvazia o homem, ela no fundo o diviniza.

“Se, pois, o meu trabalho é negativo, sem religião, ateu, convém lembrar que o ateísmo, pelo menos no sentido deste trabalho, é o segredo da própria religião; que a própria religião, não de fato na superfície, mas, fundamentalmente; não na intenção, ou de acordo com sua própria suposição, mas em seu coração, em sua essência; acredita em nada mais do que a verdade e a divindade da natureza humana.”

Autor: Janos Biro

Filosofista, anarquista, bicicleteiro, tradutor, zineiro e joguista.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: