Visões da guerra civil

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Resumo de Visões da guerra civil, de Hans Magnus Enzensberger.

A guerra civil se distingue da guerra convencional porque não diferencia militares de civis e não segue nenhuma norma que se possa encontrar na guerra entre nações. Ela não tem vencedores, apenas enfraquece as pessoas.

No imperialismo não há conflitos que não se tornem internacionais, pois a política imperialista usa a guerra como meio para gerar lucros. Enquanto a guerra internacional deixa de ser um bom investimento, as guerras civis se espalham.

Os combatentes da guerra civil se encontram desprovidos de motivos ideológicos, e é preciso muito pouco para se iniciar um conflito. É uma guerra de minorias, uma guerra molecular. “A violência libertou-se completamente de fundamentações ideológicas”. Aqueles que a fazem são em sua maioria jovens livres do tradicionalismo, que também acabam se livrando da lei. Não há “razões” por trás do ódio, senão as psicopatológicas. “Já não existem mais criminosos, mas apenas casos clínicos”.

A psicopatologia caracteriza os grupos armados modernos. Há um impulso individual de autodestruição que, embora tenha causas que não podem ser explicadas facilmente, tem consequências importantes. O grupo que destrói o único hospital da região, aparentemente sem motivo direto, o faz como uma forma de demonstrar que a esperança de viver acabou. A guerra civil, nessa perspectiva, é uma forma de suicídio.

Diferente do que se esperava, a precarização do trabalho produzida pelo avanço do capitalismo não fez com que os trabalhadores se unissem, mas declarassem guerra contra si mesmos, numa demonstração de desespero.

Hoje em dia não é mais um bom negócio explorar países pobres, principalmente aqueles que vivem em estado de guerra. As relações internacionais se tornam um “desencargo de consciência dos poderosos do mundo”, para quem os pobres são inúteis, porém inocentes como crianças que nunca irão crescer.

A guerra civil não pode ser explicada apenas por mecanismos de sobrevivência. “A biologia não colabora em nada para o conhecimento da guerra civil”.

A guerra molecular se inicia nos detalhes. “A atitude dos adolescentes antecipa a guerra civil”. A falta ou excesso de diversos fatores podem desencadeá-la dentro do indivíduo. Nossa sociedade a constrói, com seus exageros e sua rapidez. O papel da mídia é central nessa construção. A capacidade da mídia de dar uma realidade na qual o indivíduo que perdeu sua noção de “eu” possa se ater é quase sempre usada para construir uma realidade violenta. O governo transforma-se em apenas mais uma facção, que também não entende muito bem o que está acontecendo e não sabe o que fazer. A “vítima inocente” adquire seu status de inocente apenas depois que se tornou vítima.

Tornamo-nos espectadores passivos de nossa própria realidade. Talvez no futuro nossa era possa ser chamada de era da passividade, onde tomamos consciência das coisas malignas que se escondiam nas profundezas e mesmo assim não fizemos nada. Mesmo sem uma solução conhecida, é preciso compreender o problema e as possibilidades de ação. “A guerra civil não dura para sempre, mas ameaça começar continuamente, a todo instante”.

Referência:

ENZENSBERGER, Hans Magnus. Visões da guerra civil. In: Guerra civil. São Paulo: Companhia de Letras, 1998, p. 7-67.

Autor: Janos Biro

Filosofista, anarquista, bicicleteiro, tradutor, zineiro e joguista.

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