Somos violentos por causa dos jogos, ou os jogos são violentos por causa de nós?

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Um pequeno ensaio sobre jogos violentos.

Essa pergunta é, na verdade, a pergunta errada a ser feita. Afinal, como exatamente nós somos violentos? E como exatamente os jogos são violentos? Será que há alguma relação direta ou de causalidade entre uma sociedade violenta e jogos violentos? A solução seria menos jogos violentos ou uma sociedade menos violenta?

Existe uma crença do senso comum de que a violência é natural por já se expressar nas crianças. Há um motivo para questionar essa crença: há uma diferença entre violência organizada e simples agressividade natural. Desde a gestação, o excesso de estímulos auditivos, assim como o estresse da mãe, já influencia nosso desenvolvimento cognitivo e fisiológico, nos deixando em estado de alerta, ou seja, a modernidade deixa os bebês estressados. A sociedade nos afeta desde que nascemos. Mas estresse não implica em violência organizada.

Animais domesticados têm uma tendência à violência muito diferente do que suas contrapartes selvagens. O comportamento agressivo de crianças talvez possa ser explicado como influência da domesticação humana, mas não a violência organizada de uma sociedade belicista.

O que os jogos violentos, por exemplo, estão expressando? Estão liberando nossa agressividade primal reprimida pela civilização ou são a manifestação dos valores civilizados de uma sociedade belicista que insensibiliza e diminui o valor da vida humana?

Esta é uma longa discussão, mas a princípio, podemos dizer que são as duas coisas. Uma coisa é assistir um filme de guerra, outra completamente diferente é você jogar um jogo que te dá a sensação de estar na guerra, não apenas assistindo, mas participando. Exatamente por isso, criadores de jogos estão numa posição ainda mais delicada do que qualquer outro criador de produtos culturais em relação à violência. Eles usam gatilhos de agressividade mas podem estar também incentivando determinado discurso sobre a naturalidade da guerra e da violência.

É por isso que a onda dos jogos violentos agora é criticar a guerra, não comemorá-la. Mas o quão bem isso tem sido feito pela comunidade de criadores de jogos?

Essa é uma pergunta que eu não tenho condições de investigar agora, e que talvez retorne em outro texto.

Autor: Janos Biro

Filosofista, anarquista, bicicleteiro, tradutor, zineiro e joguista.

2 comentários em “Somos violentos por causa dos jogos, ou os jogos são violentos por causa de nós?”

  1. Querido amigo Janos, entender esses pressupostos acerca da violência não em jogos mas em torno dos filmes precoces ao q vivemos hoje no mundo virtual de jogos não deixam de recrudescer aquilo q Nobert Elias apregoava: vivemos o tempo todo com uma violência mediada pelos olhos!!! Estes últimos são as janelas para nossas Almas!!!

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    1. Eu penso que sempre estivemos mergulhados nas imagens de violência, quando não com gráficos realistas, com histórias aterrorizantes em torno da fogueira. A violência sempre atraiu a imaginação do ser humano, e sempre foi um prazer perigoso, como muitos outros. Eu falei um pouco mais sobre isso em outro texto: https://contrafatual.com/2018/11/09/games-paixao-e-violencia/.

      O problema talvez não seja a presença da violência, mas sua espetacularização. Na sociedade do espetáculo, sexo, amor, política, educação e também a violência se tornam espetáculo, e isso cria fenômenos novos.

      Este é um assunto relativamente novo, que envolve fatores ainda pouco discutidos pelos sociólogos. Mas a pesquisa em jogos vem crescendo. Uma amiga minha, que também faz parte do podcast Ataque, sobre jogos e política, concedeu recentemente uma entrevista muito boa sobre o assunto: https://www.theenemy.com.br/pc/culpar-videogames-por-violencia-e-saida-mais-confortavel-afirma-pesquisadora

      Obrigado pelo seu comentário e fique à vontade para participar mais.

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