Crise política no Brasil

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Uma análise de conjuntura.

Segundo a revista The Economist (publicação britânica de tendência nitidamente liberal), o Brasil estava decolando em 2009, em plena crise econômica global e durante o segundo governo Lula. A revista elogiava as políticas econômicas que possibilitaram o controle da inflação (autonomia do Banco Central) e a redução do desemprego (abertura econômica para o exterior).

Goldman Sachs previa que em 2014 o Brasil seria a quinta maior potência mundial. Mas já avisava que a falta de investimento em educação e infraestrutura poderia colocar tudo a perder. A arrogância de Lula seria o maior desafio, já que seu sucessor deveria prestar atenção nas áreas que Lula deixou passar por conta do sucesso internacional.

Em 2013 a Economist já dizia que o Brasil estava num atoleiro. Mesmo tendo Joaquim Levy (economista da Escola de Chicago) como ministro da fazenda, o governo Dilma não teria tido força suficiente para conter a crise política e econômica, o que se confirmou um ano depois com o impeachment. O Brasil estava se tornando um governo semi-parlamentar, com uma câmara dos deputados disputando poder com a presidência.

Nem é preciso dizer, as coisas de lá pra cá só foram piorando. A prisão de Eduardo Cunha apenas mostrava como o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal haviam se tornado poderosos demais. Foi justamente durante o governo PT que eles se fortaleceram, como um medida de combate à corrupção. De modo oportunista, grupos dentro do Congresso tomaram conta do do STF, do MP e da Lavajato, atrasando o julgamento de certos grupos políticos (especialmente PSDB e PMDB) enquanto aceleravam (de modo controverso) a condenação de pessoas ligadas ao PT.

O que está em jogo

Mas o que está por trás dessa disputa? O pesquisador Carlos Milani (UERJ) diz que o governo Lula estabeleceu havia estabelecido uma política internacional de cooperação com governos Latino-Americanos (Cuba, Venezuela,Equador e Bolívia). O clima antipetista foi, em grande parte, criado para possibilitar o retornou à convencional parceria com os EUA, que por tanto tempo comprometeu a autonomia econômica e política do Brasil.

A disputa política entre esquerda e direita encobre a real questão, que é o interesse dos Estados Unidos no controle político sobre o Brasil. A principal ameaça à supremacia Norte-Americana ainda é uma América Latina forte e independente. Não é teoria da conspiração falar sobre a interferência de corporações e grupos financeiros nos recentes acontecimentos da política brasileira, inclusive na instabilidade do quadro político, econômico e cultural. Os mesmos grupos que garantiram a vitória de Trump nos EUA. O Brasil é o alvo de uma guerra híbrida .

O Brasil se tornou um jogador perigoso na arena global, isso exigiu a reação estratégica dos blocos dominantes. É no eixo Norte-Sul que se encontra a verdadeira disputa de poder que afeta as eleições de 2018, como era o caso 2014, não numa suposta oposição entre partidos de esquerda e de direita. Como sabemos, inflar essa polarização é uma estratégia macropolítica. Devemos mover nosso foco para identificar o verdadeiro desafio. O que está por trás da crise política no Brasil não é a ingerência de um partido ou a corrupção generalizada, é uma potência econômica global que age previsivelmente para proteger seus interesses comerciais e sua (cada vez mais frágil) supremacia econômica.

O que fazer?

A perspectiva anarquista diante desse contexto é de resistência ao autoritarismo, não ao alarmismo do moralismo conservador. Trata-se de um problema global intrinsecamente relacionado ao comércio exterior. A violência contra venezuelanos se insere nesse contexto global. Porém, o medo de que retornemos a um regime militar pode ser usado contra nós, já que os regimes democráticos se mostraram igualmente capazes de manter países como o Brasil sob controle de instituições financeiras internacionais.

Novas estratégias de desobediência civil devem ser construídas desde já. Elas serão necessárias independente do resultado da eleição. Outra lição é não subestimar o poder político da desinformação na era da internet. Populações agrárias e indígenas são os principais alvos das políticas que virão, sendo que todos os candidatos atuais dependem de seus aliados ruralistas. O contexto indica que devemos atuar junto a essas populações com ações que visem gerar autonomia e pensamento crítico.

Embora muitos não reconheçam, estamos em plena guerra civil. As ações devem visar fortalecimento e resistência para enfrentar um cenário que promete piorar antes de melhorar.

Autor: Janos Biro

Filosofista, anarquista, bicicleteiro, tradutor, zineiro e joguista.

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